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quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Os Mistérios das Chaves na História, na Religião e nas Artes

A palavra "chave" aparece com sentido metafórico 
inúmeras vezes na Bíblia,
mas com sentido aparentemente mais político 
do que religioso.




No Evangelho de Mateus, no Novo Testamento, está escrito que Jesus disse a Simão, o pescador, que a partir de então passou ser chamado de Pedro:
"Bem aventurado és, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue quem to revelou, mas meu Pai que está nos céus. Também eu te digo que tu és Pedro, porque sobre ti edificarei a minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Dar-te-ei as chaves do Reino dos Céus. O que ligares na Terra será ligado nos céus, o que desligares na Terra será desligado nos céus."
"Pedro" é, na verdade, o nome dado em português para se referir a "Petrus", que significava Pedra em latim, o idioma falado em Roma na época em que Jesus viveu, período em que Jerusalém estava sob o domínio do Império Romano. Com isto, o texto de Mateus nos faz entender, pelo menos de acordo com a tradução tal como ela nos é mostrada hoje, que Jesus já previa que a fundação de sua Igreja - hoje chamada Cristianismo (não necessariamente a Igreja Católica) - se daria a partir de Roma. Desta forma, ele chamou Simão de "Pedra" por considerá-lo a "pedra fundamental" para a implantação do que o próprio Jesus chamava de "Novo Reino" que estava para se iniciar.
Portanto, o que está escrito no capítulo 16, versículos 17 a 20, no Evangelho de Mateus, nos mostra que Jesus atribuiu pessoalmente a Pedro (para os católicos, "São Pedro") o poder de decisão para admitir o excluir membros da Igreja e para estabelecer ensinamentos - ou "dogmas" - e perdoar e condenar pecados. Os verbos "desligar" e "ligar" também aparecem com os mesmos sentidos no Apocalipse de João e tem sido usados com frequência pelos padres. Os católicos os entendem como poder atribuído por Jesus a "São Pedro" e aos papas. No entanto a própria Bíblia, mesmo a conhecida pelos católicos, não confirma, embora também não negue porque não há nela - nem poderia haver - referência alguma aos papas, já que a Igreja Católica só seria fundada muito tempo depois.
Os católicos acreditam que isto está confirmado com base na "Confissão de Pedro". Eles se referem a uma parte do Novo Testamento contido na "Vulgata" ("latim vulgar" em latim), em que Pedro, como apóstolo de Jesus, proclama seu Mestre como o "Cristo", o tão esperado Messias que viria para guiar e salvar o Povo de Deus segundo uma profecia já então milenar, desde os tempos dos antigos hebreus. No mesmo texto, Jesus aceita ser chamado de "Cristo" e de "Filho de Deus" e declara que esta foi uma revelação do próprio Deus a Pedro. Jesus então declara Pedro como líder dos apóstolos (não necessariamente de todos os cristãos), afirmando que o pescador é a pedra fundamental para o preparo para a vinda do "Novo Reino".
Ao que parece, naquela época o "livro de Isaías" - o último livro do Velho Testamento - já era bem conhecido entre os Judeus. Tudo indica que, ao atribuir tais poderes a Pedro, Jesus fez lembrar o que o livro de Isaías diz em 22:15 e nos capítulos 19 a 22: o primeiro-ministro de Israel no reinado de Ezequias é considerado indigno e destituído de seu cargo por Deus. Em seu lugar, assume o cargo Eliaquim, filho de Hilquias. Neste ponto, está dito que Eliaquim está destinado a receber "a Chave da Casa de Davi". Atualmente esta é também chamada de "Chave de Jerusalém" ou "Chave do Reino".
Nas ilustrações ao alto, "São Pedro" aparece em uma delas com das chaves numa das mãos: uma apontando para baixo e outra para cima, e o olhar voltado para cima. Na outra ilustração, ele está com uma chave em cada mão, ainda olhando para cima, e com uma chave apontada para baixo e a outra para cima. A terceira ilustração mostra a "Chave de Jerusalém", um artefato milenar encontrado em Jerusalém. Na Bíblia e em muitas culturas antigas e atuais, a palavra "chave", bem como o próprio objeto como símbolo, representa poder de autoridade. Entre nós, a palavra "chave" representa um objeto que abre portas, cadeados, etc., mas também pode ser, em biologia, uma descrição para identificar seres vivos. É também um sinal que identifica um tom musical. É, ainda, o nome dado a uma informação importante, já confirmada, que poderá levar à revelação de informações secretas. Martin Luther ("Martinho Lutero"), o sacerdote alemão que liderou o movimento reformista protestante na Idade Média, usava a palavra "chave" para se referir a poderes sociais e políticos exercidos pelos líderes da Igreja Católica. Colocada em posição vertical, o mesmo objeto assume o aspecto de uma chave.

No brasão do Vaticano
as duas chaves estão cruzadas
apontadas para baixo
e protegidas por um escudo.
no escudo,
há as figuras de um rei,
um urso e uma concha.
Conchas sempre simbolizam
proteção ou necessidade dela.
A palavra "clave", mais usada para se referir ao tom musical, é sinônima de "chave".  Vem da palavra "clavis", que é "chave" em latim, idioma do antigo Império Romano ainda hoje falado no Vaticano. Vem dela também o nome "conclave", que se dá ao grupo de cardeais que se reúnem para decidir quem será o substituto do papa depois que este morre ou deixa o cargo. "Conclave" vem de "cum clavis", que é "com chave" em latim. Significa também, portanto, que esses cardeais detêm a chave do poder que atribuirá poderes a uma pessoa destinada a ser o próximo papa. Ou seja: aquele que governará o Vaticano como Estado monárquico e, ao mesmo tempo, toda a Igreja Católica no mundo.
As culturas não cristãs nos mostram que a chave como símbolo de poder não é exclusividade dos cristãos. A figura "A" mostra um objeto representando um deus, encontrado por arqueólogos nas ruínas de uma cidade dos Astecas, civilização cujo império por milênios dominou a região atualmente ocupada pelo México. Na linguagem popular, "palavra chave" é uma expressão muito usada para nos referirmos a uma palavra que pode ser a abertura para algo que desejamos. Chamamos também de "peça chave" a um elemento qualquer que possa ser a solução para um problema. Quando nos referimos ao objeto propriamente dito, dizemos com mais frequência que a chave abre uma porta, um cadeado, etc., embora saibamos que ela também tranca portas, potões, etc. Parece-me que, embora não percebamos, o verbo "abrir" é predominante na nossa preferência. Preferimos ver a chave como objeto de acesso, não como objeto de impedimento, embora ela possa ser as duas coisas. Isto a torna ideal como símbolo de poder, de domínio, e é assim que ela é e sempre foi usada na política, nas religiões, nas discussões sobre questões sociais, etc.


Fontes:
  • A Bíblia
  • "The World's Religion", de diversos autores - Lion Handbooks, Reino Unido.